E ai acabaram junho, julho, agosto e setembro.
Outubro chegou e ai eu fiz aniversario. Fiz anos, muitos anos. Cinqüenta e nove. Pensei em um determinado momento que eram trinta e seis, quarenta e poucos, mas nada, eram mais. E no meu coração eu me sentia uma garota, uma mulherzinha jovem e ativa e uma senhora.
Assumi meus cabelos brancos, minha cor pálida e mantenho meu espirito ativo. Decididamente sou uma senhora por fora e por dentro.
Tenho meus hábitos, meus medos e minhas arbitrariedades tremendamente coerentes a minha idade.
Minha juventude ficou la atras, foi vivida intensamente e se sou alegre, ativa e enérgica nao tem nada haver com ser jovem por dentro. Tem haver com estar viva. Viva em todos os angulos e esferas.
Sou uma pessoa moleque, debochada e cinica. Creio que tenho sido assim ao longo de minha vida e posso garantir que estes adjetivos nao tem nenhuma ligacao com a juventude.
Convivo com criancas e adolescente muito rabugentos, pessimistas e cansados. Seria uma velhice precoce? Nao, decididamente nao. Sao pessoas com caracteristicas proprias.
O que percebo com uma enorme satisfacao sao os simbolos. Os rotulos. E como ja uso o chapeu roxo tem tempo, nao importo. Com certeza nunca me importei.
Enfim, aqui estou em em contagem regressiva para os meus sessenta anos.
Com um medo enorme de nao chegar la.
Medo, medo. Sempre tive medo. E se estes medos me paralisaram muitas vezes, se me impediram de crescer e curtir, tambem me protegeram muito.
O riso solto e o medo sao meus. Fazem parte do meu programa. Da minha identidade.
Assim como uma futilidade meio consumista, uma igenuidade meio patetica e outras caracteristas que fazem ser o que sou.
Mudei muito ao longo de minha vida, porem olhando para tras, so me aprimorei nos dons que ganhei de Deus quando desci para ser a Flavia que sou.
O grande barato talvez seja isto.
Sou uma pessoa do mundo e atual. Contemporanea. E comum.
Simples, facilzinha tambem.
Ontem no meu mural do Facebook, esta rede social dos nossos tempos, tive muitas mensagens de feliz aniversario. Umas engracadas, outras comoventes, poucas protocolares.
E pensei em juntar minha contagem regressiva com um acrescimento a cada um destes meus amigos, uns tao virtuais outros tao presentes.
Assim vai ser, do primeiro ao ultimo vou postar uma mensagem e os dias que faltam para os sessenta.
Se vai vingar, se vai resultar, nao sei.
Aprendi tambem que nao sou uma pessoa previssivel e as vezes, nem tao confiavel.
E vamos que vamos, pois o dia de hoje ja acabou tem tempo.

E ai maio acabou.
Com muita violência, escândalos e, consequentemente muita tristeza.
O desafio da vida moderna com tantas ofertas e poucos recursos nos tem feito caminhar em círculos irregulares.
Somos invadidos pelas manchetes sensacionalistas e sangrentas, e antes de absorvermos todas as informações, novas matérias vão se sobrepondo. A justiça não se aplica e os processos crescem amontoando salas e cômodos. A umidade do esquecimento corroí cada vitima, cada grupo, cada sentimento.
Me doí muito o sofrimento alheio. Em todos os seres vivos deste planeta. Porém, o que me rasga de verdade é o esquecimento. Nossas vítimas são sangradas tão rapidamente e substituídas com tamanha velocidade que estamos perdendo na memória os rostos e carinhas  que nos foram caros.
Como frear este movimento é um desafio do mundo contemporâneo.
Sigo silenciosa no meu tempo, rezando com muita fé para que estes crimes acabem e que ninguém seja esquecido.
Bom domingo. Com lembranças e desejos de dias melhores.

foto Raquel Sabbas

Bicicletas e facas

Adoro as magrelas! E tenho um cuidado sempre redobrado com laminas afiadas.
Sem conseguir me equilibrar em um pensamento coerente que traduza toda esta violencia urbana que aumenta diariamente, me recolho.
A incapacidade de propor medidas eficazes, solucoes concretas, ou promover discussoes apaixonadas e nao raivosas, me provoca um sentimento de cumplicidade com aqueles que fazem sangrar, apertam os gatilhos, roubam as merendas, saqueiam os cofres publicos e que se silenciam.
Me sinto uma pessoa pessima, um tipo de ema com a cabeca enfiada em um buraco raso.
Sem ponto final, sem desfecho, sem nada, me sentencio com um silencio estrondoso.
Chega de agora.

Sabado

E ai a semana acaba e chega o sabado. Estatelado de falta de atividades sociais. Nenhum casamento, aniversario ou batizado. Nada de uma vernissage ou de um lancamento espetacular.
Se Ayrton Senna estivesse vivo, hoje ele completaria 55 anos. Com certeza teria uma festa enorme. E com certeza tambem eu nao seria convidada. Saudades dele.
Sabado trata-se de um dia da semana para jovens. Literalmente nao os de espirito, mas os jovens de idade. Nao adolescente que devem voltar cedo, mas aquela faixa entre 25 e 35 e tantos anos. Epoca em que normalmente ja se tem mais um aporte financeiro pessoal, um carro, muitos amigos, energia, beleza, vigor e disposicao. Ah, esta tal de disposicao.
Emendar programas, de um lugar para outro, com a possibilidade ate de cair em uma cama desconhecida e acordar, juntar acampamento e dar bom dia para o porteiro que com boa vontade, nao vera jamais.
Sabado decididamente nao 'e um dia infantil. Ninguem tem que levar casaquinho ou guarda chuva para sair ao sabado. Se tem, eh melhor ficar em casa.
Este dia magico tambem nao eh para os jovens da melhor idade, esta bobagem que inventaram para tratar de forma boba os velhos. Velho sim, pois depois dos 40, 50,  passamos a ser tios ou tias de alguem.
Velho sabado.
Amargurado sabado.
Fantastico sabado.
Com uns bons convites, uma boa vodcka, musica de qualidade e pessoas interessantes, voltamos para pista e dancamos ate o domingo chegar.
Quem esta em casa hoje, a esta hora escrevendo nao deve ter muitas opcoes.
Ou tem?
Uma maravilha ser politicamente incorreto, um primor poder rir destas bobagens e trocar o canal da tv pois hoje, sabado, com toda a honestidade, em nenhem lugar algum deste planeta azul,  eh dia de ver novela.



Domingo

Bom dia.
Hoje as palavras estao entaladas, como pessegos sem calda em uma lata gorda e com ferrugem, esquecida na ultima prateleira de um mercadinho saqueado.
Vou embora rapido antes que me consuma neste estado de calamidade pessoal.
Um palpite por favor!

Comeco com bela imagens. Inspiracao.

Rapido mesmo pois cataram meu cedilha






Vovozinha

Minha querida vovo
Saudades
Hoje uma menina me chamou de vovozinha
ainda sobre o efeito do choque
e da minha inercia em nao ter dado uns tapas na mae daquela guria
vou dormir
um tanto irritada
um pouco culpada
e um tanto divertida
vai gerar uma boa historia
filha da puta

Vovo, nao \e contigo!

Em março, as coisas acontecem

Gosto de começar em março, ou de voltar neste período para meus projetos.
Não tenho sido uma boa pessoa para mim.
Deixo largado minhas sementes, espalhadas sem rega, sem cuidado.

Em 07 de março de 2007 minha avó morreu e sonhei com ela ontem para hoje.
Um sonho bem detalhado, eu escolhendo movel e enxoval para ela, com o maior zelo e cuidado. Anotava tudo, calculava pois no sonho, aquelas compras iriam ser divididas entre os netos. Tudo bem escolhido e vou pagar. Ai o canal muda, assim, como se alguém tivesse com o controle remoto e uma nova imagem me aparece: ela voando de parapentes, no amanhecer, em um mar tranquilo e em um lento zig zag desaparece no infinito do céu.
Acordo tranquila, abençoada.
Sigo o caminho do texto, faço café, esquento o pão. 
Saudades, bem tranquila, bem alegrinha, bem minha avó.
Gosto do mês de março.
Em 16 de março de 1995 nascia minha filha, adiantada no tempo em três semanas. Minha sócia.
07 de março de 2015. Um sábado igual, com roupa na máquina para estender, sócia para levar à Escola, trabalho novo para fazer durante todo o dia e a certeza ... uma certeza. 
MARÇO!


FOTO:  http://blog.agirregabiria.net/2010/07/lugares-donde-hemos-vivido.html