Preto no Branco

"A arte de escrever é, por essência, irreverente e tem sempre um quê de proibido: algo assim como essa tentação irresistível que leva os garotos a riscar a brancura dos muros." Mario Quintana

Do meu caderno de poesia de 1988 - tem tanto tempo que nem sei a quem eu amava, mas que eu amava muito, ah, isto eu sei!

Era uma vez um homem
que voava sentado.
Pairava acima das nuvens
e descansava seu corpo
no branco de uma quietude
que só ele conhecia.
Quando voltava a Terra e encontrava os amigos
achava alguns meio confusos, assim meio fora de órbita,
como se estivessem embriagados de um tédio, ou de
uma falta de esperança crônica.
Ficava muito sem ar e tinha dores de cabeça.
Pensava se ele deveria melhorar ou se perder.
Procurava uma receita e só encontrava
nada, um eco, de mal gosto
de mal cheiro, feito um arroto.
Se considerava então meio besta, meio qualquer
coisa.
Em dúvida entre voar para bem longe
ou ficar ali, naquele chão, que lhe parecia tão, tão
sei lá o que,
escolhia uma terceira hipótese: abraçava quem quisesse
e contava histórias. Das nuvens. Da Fé.
Da potencialidade.
Depois, ia trabalhar.
Feliz da vida.

Luanda, 13 de Junho de 2010

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