Stiff Necked Fools

Stiff Necked Fools


Neste final de ano, em um condomínio a beira mar em Angra dos Reis, entre os muitos fatos do meu quotidiano que considero coisas do Além, dois se destacaram. Um eu conto aqui, outro vai para a lista do IEOH. Não se trata de nenhum Instituto literário, só uma classificação: »Isto É Outra Historia.» Desde que voltei a escrever, por causa deste blog, os assuntos se misturam, então eu tenho que ordenar as ideias e as lembranças. Então, o que aparecer e não couber nas linhas, ou não for adequado ou pertinente, vai para o IEOH.

Voltando, ao Reveillon. Naqueles dias chuvosos, véspera do ano de 2009, naquela casa alugada por uma turma de brasileiros (2), angolanos (4), com idades dos 2 aos 50 (pelo amor de Deus, Pai, não vão me perguntar aonde eu ficou nesta escala…) a música que ecoava com maior frequência e volume era na voz de Bob Marley. O Jo, meu amigo angolano, adora musica a ponto de ir para a praia e deixar o som lá, vibrando, porque mesmo longe, ele sabe o que está rolando sonoramente. Isto quando ele não colocava kisomba, que é um ritmo maravilhoso. Para dançar, assim rápido e bem juntinho. Um espetáculo de dança.

Em uma daquelas poucas tardes de férias, um brasileiro aparece por lá, emocionado, e confidencia ao Jo que a musica que estava tocando ele não escutava há 19 anos… Eu não sei o que me surpreendeu mais, ele não escutar uma musica que ele gostava tanto a tanto tempo ou ele assumir este tempo. A música que ele poderia ter saudades era Stiff Necked Fools. Eu quase escrevi aqui, assim. A musica que ele tinha saudades era esta. Só que não dá para você ter saudades de uma musica, a não ser que você não tenha como escutar. OU será, que dá? IEOH

Eu fiquei com esta coisa na cabeça e tive inveja daquele cara, que entrou naquela casa desconhecida, de coração aberto e assumir que tinha um tempão que não escutava aquela musica. Eu comecei a pensar nas coisas que eu não faço, vejo ou escuto há muito tempo. Transar foi a primeira coisa que me ocorreu. Transar, não trepar ou fazer amor, que são coisas para mim bem diferentes. Trepar remete a escada, lâmpada queimada, bicicleta. Amar, poesia, fidelidade. Transar é … transar, tudo de bom, né? Então, será que se eu falar, não para alguém totalmente desconhecido, » tem 19 dias que eu não transo», depois de ver uma cena maravilhosa na televisão do vizinho, será que vão me dizer: não fica triste não, a gente transa com você… Porque o Jo ficou de gravar um cd com a música para o saudoso. Ou vão me achar uma doidivanas? Agora, se eu falar, tem 19 anos que eu não transo, me internam? Me interditam? Não sei, creio que não saberei porque não vou ficar perguntando isto por ai e também, o que isto importa?

Eu também me lembrei que tem muito tempo que eu não escuto a musica do Butch Cassidy. Raindrops keep Falling… e que o Paul Newman morreu. Assim como o Bob Marley. Também tem tanto tempo que não ando de bicicleta… E perdi o tesão de me lembrar. Fico novamente com a transa na cabeça. No corpo.

Tem quanto tempo mesmo? Será que a gente se esquece disto? Acho que a gente escolhe não lembrar. Ate quem é casado não fica ai transando todos os dias. Tem períodos e períodos. Só que a gente não declara, porque não interessa a quase ninguém.

Agora, sem ser chata, será que fica na cara escrito? Assim, tipo, estou sem transar tem 19 meses? Porque a transa, tem umas que ficam em evidência. Grávida, por exemplo. Transou! Não, antes podia ser assim. Ultimamente, se engravida sem contatos, inseminação artificial. Quando a gente transa depois de muito tempo, fica assim meio boba. Será que quem olhasse para aquele homem saberia que ele não escutava aquela musica do Bob Marley há tanto tempo?

Bem, não vi a cara do cara que não escutava esta musica do Bob Marley a dezenove anos. Vocês também não vão ver a minha cara por estes dias. Então está tudo bem. Você não me liga, eu não lhe telefono.

Agora, que está historia não me saiu da cabeça, ainda não saiu não.IEOH

0 comentários:

Postar um comentário